quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

"Cara de campeão": o River Plate x São Paulo na Libertadores-2005


Por: Felipe Simonetti (@felipesimonetti)

Mais tenso impossível. Foi rojão a noite inteira em frente ao hotel são paulino em Buenos Aires, tudo para impedir um bom descanso dos atletas, que, na noite seguinte, entrariam no Monumental de Nuñez para garantir a vaga para a tão sonhada final da Libertadores. Era o tradicional clima comum a competição continental: ônibus apedrejado, torcida fanática que viajou mais de 2.200 quilômetros e o mais importante, o coração apertado que nem a vantagem de 2 a 0 garantida nos minutos finais no Morumbi conseguia amenizar.

Era 29 de junho de 2005, o dia que separava o São Paulo de reencontrar sua querida final de Libertadores, 11 anos depois da trágica derrota para o Vélez nos pênaltis em pleno Morumbi. O relógio demorava a passar. O tricolor a princípio estava em situação melhor, afinal, Danilo e Rogério Ceni marcaram no Morumbi e deram o direito do clube de perder até por dois gols de diferença, caso também marcassem um. Entretanto, no caminho do título, como dizem, qualquer jogo é final e, em decisão, não adianta cantar vitória antes da hora

Deu a hora. Os dois times entram em campo e se perfilam para o tradicional momento dos hinos. O "sangue nos olhos" já se denotava nos jogadores de ambas as equipes e o ensurdecedor barulho da torcida argentina trazia um incremento ainda maior ao clima de decisão, deixando notória toda a importância do jogo, que poderia já decidir a vaga sul-americana no Mundial de Clubes em caso de vitória dos mexicanos do Chivas sobre o Atlético-PR na outra semifinal - fato este não consumado.

De um lado, de camisa listrada estava o tricolor mostrando que definitivamente era o visitante, mas nem por isso abriria as pernas. Rogério Ceni; Fabão, Alex e Lugano; Josué, Mineiro, Júnior, Souza e Danilo; Amoroso e Luizão cantavam o hino emocionados, afinal, poderiam fazer história naquela noite.


Do outro lado, Constanzo; Diogo, Ameli, Tuzzio e Dominguez; Mascherano, Lucho, Zapata e Gallardo; Farías e Marcelo Salas tinham que fazer por onde para reverter a desvantagem.

O juiz apita e rola a bola com os mais tímidos passes de reconhecimento de situação e tensão, o típico clima de final. A torcida argentina queimava de emoção nas arquibancadas e, mais discreta e em menor número, mas não menos emocionada, os são-paulinos faziam sua festa. E puderam já soltar o grito mais cedo quando viram Souza armar uma linda jogada que terminou no escanteio perfeito para Danilo, de cabeça, abrir uma vantagem quase impossível de ser recuperada.

Mesmo com o gol no início e deixando os donos da casa em situação delicada, um preocupado Paulo Autuori preocupava-se em alertar seu time para os perigos da comodidade, principalmente diante dos aguerridos milionarios. O receito fazia sentido, tanto que aos 35 minutos ainda do primeiro tempo, Farías recebeu um excelente lançamento e girando dentro da área colocou dentro das redes de Rogério Ceni; e foi com esse 1 a 1 que os times foram para os vestiários. O River sabia que estava difícil, precisavam marcar mais três, contudo a tradicional imprevisibilidade da Libertadores contribuía para que retornassem ao segundo tempo com um espírito mais enérgico.


O camisa 10, Marcelo Gallardo - atual técnico do próprio River Plate - frequentemente assustava os tricolores e, em uma linda arrancada, conseguiu vencer Rogério Ceni com um petardo. O problema é que o travessão estava lá para fazer a defesa e manter o empate. 

Mesmo pressionado, o tricolor foi para frente e assim conseguiu se projetar. Amoroso e Fabão marcaram respectivamente as 14 e 35 da segunda etapa e praticamente consolidaram a vaga na final. Salas até descontou aos 39, mas nada que atrapalhasse a festa em pleno Monumental.

A partir daquele momento o São Paulo já tinha cara de campeão. Foi o time que conseguiu bater por um agregado de 5 a 2 um dos favoritos a título. Rogério se consagrava debaixo das redes, Lugano era a dose certa e necessária de raça uruguaia no time. Danilo era a magia da armação e finalização enquanto Amoroso e Luizão fechavam o ataque. 

Semanas depois, essa mesma equipe viria a vencer o Atlético-PR e sagrar-se campeão da mais importante competição do futebol sul-americano e, a glória máxima, ainda viria meses depois, com a épica vitória sobre o Liverpool no Mundial de Clubes, no entanto, não resta dúvidas de que foi no Monumental de Nuñez, naquele 29 de junho de 2005, que o São Paulo de Paulo Autuori trazia à tona sua cara de campeão.

Ficha Técnica:

RIVER PLATE
Costanzo; Diogo, Ameli, Tuzzio e Dominguez (Montenegro); Lucho González (Fernández), Mascherano, Zapata (Sambueza) e Gallardo; Marcelo Salas e Farías
Técnico: Leonardo Astrada

SÃO PAULO
Rogério Ceni; Fabão, Alex e Diego Lugano; Souza, Mineiro, Josué (Renan), Danilo e Júnior; Luizão (Alê) e Amoroso
Técnico: Paulo Autuori

Local: Monumental de Nuñez, Buenos Aires (Argentina)
Árbitro: Rubén Selman (Chile)
Cartões Amarelos: Mascherano, Lucho González, Fabão, Luizão, Fabão, Rogério Ceni, Júnior.
Público: 58.956

Gols: Danilo, aos 11 min, e Farías, aos 35 min, do primeiro tempo; Amoroso, aos 14 min, Fabão, aos 35 min, e Salas, aos 39min, do segundo tempo.

Os Gols:


Jogo Completo:

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