quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Diego Aguirre, conhecimento de causa na busca pelo tri


Por: Jhon Willian Tedeschi (@jhontedeschi)

O Internacional deu uma cartada muito interessante na transição das temporadas 2014 e 2015. Surpreendendo a todos que acompanham o futebol gaúcho, brasileiro e sul-americano, a direção colorada anunciou o nome do uruguaio Diego Aguirre para comandar o time em busca de mais um título da Libertadores da América. E se tem uma coisa da qual La Fiera entende, é da competição mais charmosa do continente.

Com apenas 49 anos de idade, Aguirre tem uma experiência já consolidada como treinador, função que desempenha desde os 35 anos, quando iniciou a carreira no pequeno Plaza Colonia. Na equipe do sudoeste uruguaio, entre outras façanhas, conseguiu derrotar o Peñarol no estádio Centenario – pela primeira vez na história do clube –, e classificou a equipe para a Liguilla Pré-Libertadores, além de ter trabalhado com um jovem zagueiro chamado Diego Lugano.

No entanto, é impossível desvincular a vivência de Aguirre na Libertadores da América da sua história como jogador. Apesar de ter construído sua carreira jogando em vários clubes importantes do futebol sul-americano, como Independiente, São Paulo e o próprio Internacional, a passagem do ex-atacante pelo Peñarol foi a mais marcante de todas. É lembrado até hoje pela participação na campanha do 5º título carbonero na Libertadores, sobretudo pelo gol do título, marcado no último minuto da prorrogação contra o América de Cali.



Indiscutivelmente aquela campanha e a convivência com o maestro Óscar Washington Tabárez agregaram um conhecimento que Aguirre deverá levar consigo para o Internacional, até porque em várias oportunidades o agora técnico colorado falou sobre sua admiração pelo treinador da Celeste Olímpica, tanto que trajetória de Aguirre em alguns pontos lembra muito à de Tabárez, como o destaque no Peñarol, e as passagens pelo Montevideo Wanderers e seleção sub-20 uruguaia, antes de assumirem desafios em gigantes do futebol sul-americano.

Por falar em destaque no Peñarol, se hoje o treinador é visto como um traidor por boa parte da torcida carbonera, os títulos dos Clausuras 2003 e 2010 não podem ser esquecidos em sua trajetória, coroadas com as conquistas de ambos os Supercampeonatos sobre o arquirrival Nacional. 

Na última passagem pelo Peñarol, entre 2010 e 2011, o estilo de Aguirre ficou conhecido para o grande público, sobretudo graças à boa campanha na Libertadores 2011, quando os uruguaios foram finalistas, parando apenas no Santos. Tendo um time que aliava força e experiência na defesa com velocidade e juventude do meio para frente, além de opções tarimbadas no banco de reservas, o Peñarol de Aguirre sofreu para passar da fase de grupos, vencendo três e perdendo seus outros três jogos – inclusive sofrendo uma goleada de 5 a 0 para a Liga de Quito. No mata-mata, surpreendeu, coincidência ou não, o Internacional, virando um jogo extremamente complicado em pleno Beira-Rio. Passou na sequência pela Universidad Católica e pelo Vélez Sarsfield, antes da derrota na final.



Existe uma grande expectativa quanto ao trabalho do novo comandante do Inter, uma vez que sua última experiência foi no mundo árabe, onde todos sabem que a carga de trabalho é ínfima em comparação à do futebol sul-americano. Os primeiros treinamentos dão conta que ele manterá o mesmo estilo que ficou conhecido no Peñarol, alinhado com a filosofia da nova direção, que deseja um time compacto, veloz e marcador. 

O esquema preferencial de Aguirre é o 4-4-2 britânico, o das famosas “duas linhas de quatro”, mas o grupo colorado não parece oferecer alternativas para a implementação deste sistema de jogo, principalmente na montagem da meia-cancha, que tem poucas opções de velocidade para jogar como “wingers”. O treinador terá que, além de se adaptar à realidade do futebol brasileiro, se reinventar no aspecto tático, e buscar uma formatação de time que se adeque ao material humano disponível, e não o contrário.

Por fim, Aguirre terá que encarar um fator um tanto quanto místico, que é o fato de treinadores estrangeiros não darem muito certo no Internacional – o que é uma tendência na maioria dos clubes brasileiros. Ainda arde na retina dos colorados a passagem do também uruguaio Jorge Fossati pelo clube, em 2010, que mesmo redundando no bicampeonato da América (já sob o comando de Celso Roth), não é das mais queridas pelo torcedor. 

A impaciente mídia gaúcha, que não costuma perdoar nenhum tipo de tropeço, poderá ser outro obstáculo ao trabalho de Aguirre, e esse tratamento com a imprensa, que aqui é muito diferente em relação aos outros países da América do Sul, precisará ser bem trabalhado pelo treinador e pela direção do clube. Às margens do campo, Aguirre tem uma importante experiência e uma excelente estrutura à disposição para levar o Internacional ao tri da América, basta trabalhar – e muito.

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