sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A virada do Nacional

Luis Aguiar comemora um dos gols da goleada do Peñarol sobre o Nacional em abril do ano passado. Hoje, aurinegros não têm muito o que comemorar, ao contrário do rival (Foto: EFE)




Por: Felipe Ferreira (@felipepf)


27 de abril de 2014. No Estádio Centenário, em Montevidéu, o Peñarol vencia o Nacional por 5 a 0, a maior goleada da história do clássico, ficando notório, a quem acompanhava o futebol uruguaio na época, que os Carboneros mostravam-se um tanto quanto superiores comparados a seu maior rival, diante de um um momento pouco animador para o Uruguai no cenário internacional com os dois gigantes do país tendo obtido resultados pífios na Libertadores daquele ano.

23 de fevereiro de 2015. Se alguém, em abril, dissesse que o Penãrol vivia uma situação preocupante e o Nacional vivesse um período de ascensão capaz de creditá-lo, inclusive, a representar o futebol uruguaio com dignidade, este alguém seria diagnosticado com insanidade mental, tudo porque esse cenário era tido como completamente improvável. Entretanto, o mundo do futebol dá voltas e o panorama diagnosticado é, de certa forma, inverossímil, isso porque, por mais difícil de acreditar que seja, o Decano ameaça retomar os tempos de hegemonia nacional, enquanto o seu maior rival, antes tão superior, vive dias bastante difíceis. 

Em situação delicada, sem convencer toda a tradição e força da camisa, foi de uma aposta da diretoria que o Nacional começou a tomar um caminho diferente. Abalado por uma eliminação precoce, uma campanha mediana no Apertura e a goleada no dérbi local, o Rey de Copas não tinha muito o que fazer e, de maneira interina, Álvaro Gutiérrez, treinador de experiência apenas em clubes uruguaios de pouca expressão, chegava ao comando da equipe. Era o primeiro para a concretização de uma renovação empreendida por todos do clube.

Superando a desconfiança inicial, Gutiérrez veio a conquistar o Apertura uruguaio conquistando 42 (17 a mais que o Peñarol) dos 45 pontos, isso sem contar o brilhante aproveitamento ostentado pelo treinador com apenas uma derrota em 22 jogos, denotando o ótimo momento pelo qual o clube uruguaio atravessa.

Analisando o rápido impacto da chegada de Álvaro, ex-meio-campo de sucesso no futebol uruguaio durante a década de 90, a causa para isso é explicada por uma decisão em especial envolvendo o aproveitamento de atletas oriundos da categoria de base, o que foi vital para definir o atual padrão de jogo do Nacional e tornar a alavancar o nível técnico do clube, que sofria com um elenco envelhecido.

Entre nomes já consolidados no time principal, como o volante Carlos de Pena, os meia Gastón Pereiro e Gonzalo Ramos, a equipe de Álvaro Gutiérrez já deve ter outros jovens valores agregando ao time principal, como Leandro Otormín e o brasileiro Pablo Valim, denotando a consolidação do projeto de formação de atletas do Decano e, acima de tudo, de um padrão de jogo dentro do time profissional.

Diante desse panorama e com o físico do time revigorado, Gutiérrez foi capaz de montar uma equipe longe de apresentar um plano de jogo, mas vindo a ser eficiente e contundente, principalmente no setor ofensivo. Assim, até mesmos medalhões, que começavam a gerar desconfianças, como Álvaro Recoba, ganharam uma importância a mais dentro do plantel e, dentro de campo, passaram a obter um rendimento ainda maior, para o encanto da torcida. Agora, o objetivo é aproveitar dessa experiência para impulsionar os jovens a "encorparem" ainda mais e, dessa forma, contribuir para o Nacional ir bem na Copa Libertadores.

Enquanto isso, o outro gigante uruguaio, o Peñarol, segue linha totalmente contrária. Tendo iniciado o ano de 2014 com Jorge Fossatti e terminando-o com Paolo Montero treinando a equipe de maneira interina, quem chegou para o ano de 2015 foi Pablo Bengoechea. Com tantas mudanças e técnicos adeptos de esquemas táticos completamente diferentes (Fossatti jogava com 3 zagueiros, Montero utilizava o 4-4-2), Bengoechea vem sofrendo para definir um padrão de jogo para o atual elenco aurinegro, ainda mais que a qualidade técnica dos jogadores acrescenta uma dificuldade a mais para o seu trabalho.

Sofrendo com um ambiente interno um tanto quanto conturbado desde a polêmica saída de Diego Aguirre, os Carboneros sofrem para reeditarem seus momentos de glória e, ao contrário do Nacional, não consegue aproveitar-se de maneira eficiente dos jovens formados em suas categorias de base, tornando a situação ainda mais delicada, tornando difícil uma eventual reformulação.

Nos últimos tempos, bons nomes surgiram nas canteras aurinegras, mas todos acabaram sendo subutilizados no profissional. Sebastián Cristófano (que já se transferiu para o Sevilla) e Jonathan Rodríguez são exceções à regra, porque Nahitan Nández, por exemplo, é outra ótima jovem promessa, no entanto, acabou preterido por veteranos que pouco acrescentam ao time, como Sergio Orteman e Marcel Novick, tornando ainda mais difícil a chance de mudanças no panorama carbonero.

Dessa forma, o Peñarol vai indo de mal a pior. Com Bengoechea perdido no comando, a pré-temporada dos Maynas em 2015 se arrasta, até aqui, sem nenhuma vitória e, o pior, nos dois encontros contra o Nacional, o resultado final foram dois reveses, inclusive um vexatório 3 a 0 que, mesmo sendo um amistoso, foi bastante doloroso. Assim, com um sendo o oposto do outro, o Decano virou o jogo do 5 a 0 à longo prazo, ascendeu e o futebol uruguaio vê um de seus gigantes recuperar a força a qual sempre lhe foi tradicional.

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