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Racing: o último dos campeões dos saudosos "torneos cortos" (Foto: La Redó) |
Por: Jhon Tedeschi (@jhontedeschi)
No final da tarde desta sexta-feira (13) começa mais um
Campeonato Argentino em nossas vidas. Parece uma grande ironia o certame se
iniciar em uma “sexta-feira 13”, mas a verdade é que a mudança radical no
regulamento coloca em xeque a efetividade na organização do campeonato e, acima
de tudo, a qualidade técnica do mesmo.
Serão 30 equipes participantes, as 20 que militavam na elite
até o segundo semestre de 2014, e os 10 clubes que ascenderam do Torneo de
Transición Primera B Nacional. Estão extintos os torneios curtos
(Apertura/Clausura e Inicial/Final), que já eram marca registrada do fútbol argentino, e o calendário, que
até então era o “europeu”, será o do “ano-calendário” – o campeonato começa
hoje, e terminará apenas em dezembro.
Os clubes tiveram cerca de 9 meses para se adaptar a esta
nova realidade, uma vez que o anúncio do novo calendário foi feito ainda no
final de abril de 2014. O último campeonato disputado neste modelo, de um
torneio único, havia sido na distante temporada de 1966 – nas temporadas
1985/85 e 1989/90 também foram disputados torneios únicos, mas respeitando o
calendário “europeu”.
O leitor deve estar se perguntando o porquê da AFA mudar um
regulamento que era aparentemente efetivo – apesar dos pesares –, para inchar
um campeonato na elite. A resposta é simples: medida populista. A organização e
quem manda no futebol na Argentina é, via de regra, gente diretamente ligada ao
governo Kirchner, que visa a aumentar sua popularidade apelando para a medieval
política do “pão e circo”.
O novo modelo de
disputa
Conforme o exposto anteriormente, os torneios curtos
(infelizmente) foram extintos. As 30 equipes disputarão um torneio único, onde
todos se enfrentarão, apenas uma vez. Na rodada 24, os clássicos serão
repetidos, apenas com a inversão do mando de campo, como medida bem discutível
de nivelamento técnico. O campeonato terá um hiato entre 31 de maio e 12 de
julho, para a disputa da Copa América, no Chile. A fase regular começa agora,
em fevereiro, e se encerra na primeira semana de novembro.
O campeão, obviamente, será o que acumular mais pontos ao
longo do campeonato. Pelo menos isso não mudou. Ao contrário dos anos
anteriores, quando a classificação para as copas internacionais se dava pela
soma dos pontos dos torneios curtos ao longo do ano, e não da temporada, em
2015 teremos Liguillas seletivas para
a Libertadores da América e a Copa Sul-Americana. As Liguillas serão disputadas nos meses de novembro e dezembro.
Aparentemente a coisa é simples, mas vamos ver que não é bem
assim. Campeão e vice estão classificados para a fase de grupos da Libertadores
2016, até aí tudo OK. Como a Argentina tem 5 vagas para La Copa, restam 3, e uma delas será do campeão da Liguilla pré-Libertadores. Esta seletiva
será um play-off simples, onde jogarão o 3º vs 6º e 4º vs 5º colocados na fase
regular do campeonato. As semi-finais serão em jogo único e a final em duas
partidas.
O derrotado na final da Liguilla
pré-Libertadores estará automaticamente classificado para a Copa Sul-Americana
2016. Restarão 5 vagas, 4 delas em disputa na Liguilla pré-Sul-Americana. Entraremos nos detalhes quanto a
fórmula de disputa desta seletiva quando for pertinente, mas é importante saber
que ela envolverá do 7º ao 18º colocados na fase regular, além dos perdedores
das semi-finais da Liguilla
pré-Libertadores.
Quanto ao rebaixamento, seguimos com a maravilhosa “tabla de descenso”, que medirá o promedio (quociente entre o número de
pontos e o número de jogos) das equipes nas últimas quatro (!) temporadas (a
saber: 2012/13, 2013/14, Torneo de Transición 2014 e 2015). Serão apenas duas
equipes rebaixadas ao final da temporada.
Como se reforçaram as
principais equipes?
Sabendo das agruras que um campeonato longo oferece, as
maiores equipes buscaram reforçar bem seus elencos, ao passo que as equipes
menores perderam seus principais jogadores e precisaram ser muito precisas nos
movimentos de garimpar talentos para seus grupos. Os 5 grandes, por exemplo,
foram forte ao mercado, contratando com qualidade – no caso do Boca Juniors,
também em quantidade. Até porque 4 deles (à exceção do Independiente) estarão
na disputa da Libertadores da América neste ano.
E começamos falando justamente do Boca Juniors, que anunciou
nada menos que 9 novos jogadores, apesar de ter perdido alguns outros tantos. Os
principais reforços são os ótimos Pablo Pérez (volante) e Guillermo Sara
(goleiro), que retornam do futebol espanhol, o meia uruguaio Nicolás Lodeiro,
que estava no Corinthians, e o centroavante ítalo-argentino Pablo Daniel Osvaldo,
ex-Internazionale/ITA.
O River Plate, campeão da Sul-Americana e da Recopa,
empolgou no início da janela de transferências acertando o retorno de Pablo
Aimar, que logo se lesionou e dificilmente ficará tão cedo à disposição de Marcelo
Gallardo. Os millonarios não perderam
nenhum grande valor, e reforçaram seu grupo com o promissor Gonzalo Pity Martínez, que chegou do Huracán, e com
o uruguaio Camilo Mayada, destaque do Danubio/URU.
Os rivais de Avellaneda tiveram posturas distintas, mas com
uma coisa em comum: ambos perderam muitos jogadores importantes.O Racing, atual
campeão argentino, perdeu um de seus principais jogadores, Ricardo Centurión,
que foi para o São Paulo. Em contrapartida, chegou o paraguaio Óscar Romero,
bom valor do Cerro Porteño/PAR.
Já o Independiente perdeu muitos jogadores a nível de grupo,
a se destacar o meia Federico Insúa e o atacante Sebastián Penco, que foram
para o futebol colombiano, mas contratou o ótimo atacante Lucas Albertengo,
ex-Atlético Rafaela, e os experientes defensores Emiliano Papa e Mauricio
Victorino.
Defensor do título maior do continente nesta temporada, o
San Lorenzo se reforçou com dois nomes que, particularmente, são muito
interessantes. Um é o volante Franco Mussis, que estava no Genoa, mas foi muito
bem no Gimnasia y Esgrima/LP, e o outro é o meia Sebastián Blanco, revelado
pelo Lanús e que atuava no futebol inglês. Dos jogadores que saíram, o mais
utilizado era o defensor Walter Kannemann, contratado pelo Atlas/MÉX.
E as menores equipes,
como se comportaram na pré-temporada?
Temos dois grupos das chamadas “menores equipes”, que são os
clubes importantes, de certo porte e que já militavam na elite do fútbol argentino, e os “quadros chicos”, sem grande estrutura ou
poderio financeiro, que certamente enfrentarão alguma dificuldade ao longo da
temporada. Entre os primeiros, destacam-se Estudiantes/LP e Huracán, que estão
na Libertadores da América, Vélez Sarsfield, Newell’s Old Boys e Rosario
Central.
O Huracán surpreendeu o continente ao conquistar a Copa
Argentina no ano passado, mas, acima de tudo, ao derrubar o Alianza Lima/PER na
1ª fase da Libertadores. O elenco perdeu um de seus melhores jogadores, Pity Martínez, negociado com o River
Plate. O outro argentino que passou pela fase eliminatória da Libertadores, o
Estudiantes/LP, também perdeu um de seus principais atletas, Joaquín Correa,
que foi para o futebol italiano, mas três nomes de destacam entre os reforços:
o uruguaio Álvaro Pereira, e os jovens revelados pelo Boca Juniors, Juan
Sánchez Miño e Luciano Acosta.
Os clubes de Rosario não tiveram tanto destaque no mercado
de transferências, além de não terem times tão promissores para a temporada
2015, tanto é que os principais nomes são os treinadores; Américo Gallego, do
lado do Newell’s, e Eduardo Coudet, do lado do Central. O Vélez Sarsfield segue
apostando forte nas categorias de base, mas repatriou os experientes Hernán
Pellerano e Leandro Somoza, além da contratação de Mariano Pavone, em reposição
à saída de Lucas Pratto, que foi para o Atlético Mineiro.
Das outras 20 equipes, destacaria as participações do
Quilmes (se reforçou com Bieler, Buonanotte e Tito Ramírez), Tigre (teve o retorno de Echeverría e as chegadas de
Pelletieri e Neumann Morales), Colón (contratações de Clemente Rodríguez e
Pablo Ledesma, ambos ex-Boca Juniors), Lanús (apesar do desmanche teve os retornos
de Fritzler e Leto) e Banfield (chegadas de Viatri, Civelli e Maxi Calzada) no
mercado.
Quem briga pelo
título? Quem vai lutar para não cair?
Os torneios curtos tinham o interessante ingrediente da
imprevisibilidade, pois qualquer equipe poderia aproveitar uma boa fase e
arrancar para o título. Este ano, com um campeonato mais longo, o número de
candidatos ficou bem restrito, apesar do equilíbrio entre as maiores equipes.
Por ter se reforçado melhor que seus concorrentes diretos, é
inevitável apontar o Boca Juniors como principal candidato ao título. Se o
técnico Rodolfo Arruabarrena conseguir encaixar as peças na sua bem ajustada
estrutura montada na temporada passada, os xeneizes
chegam fortes para a disputa do título argentino e também da Libertadores da
América.
Os maiores concorrentes do Boca Juniors serão os arqui-rivais
River Plate e Independiente, que são os clubes que mostram estrutura técnica
para confrontar o clube da Ribera. Os bem organizados taticamente Estudiantes/LP,
Racing e San Lorenzo vão correr por fora, sendo favoritos às vagas na Liguilla pré-Libertadores.
Como tivemos muitos acessos na temporada passada, os
candidatos ao rebaixamento também não serão poucos. O Crucero del Norte, pela
estrutura reduzida, e pela distância geográfica em relação às demais equipes, é
ficha 1 para o descenso. Aldosivi,
Defensa y Justicia, Sarmiento e Temperley, desacostumados à elite, também
deverão sofrer durante o ano. Atlético de Rafaela, Olimpo, Tigre, Quilmes e
Banfield, com pontuação baixa acumulada ao longo das últimas temporadas, precisarão ficar de olho nos promedios, para evitar uma surpresa desagradável ao final do ano.
A rodada inaugural do Campeonato Argentino 2015 começa nesta sexta-feira (13), com duas partidas. O primeiro jogo, às 19h (horário brasileiro de verão), será entre Vélez Sarsfield e Aldosivi, no José Amalfitani. Na sequência, às 22h10, o Racing começa a defesa do título do último torneio recebendo o Rosario Central, em Avellaneda - muito bom jogo, por sinal. Abaixo, os demais jogos da rodada (todos considerando o horário brasileiro de verão):
14/02, 18h, Nuevo Gasómetro - San Lorenzo vs Colón
14/02, 18h, Juan Carmelo Zerillo (Del Bosque) - Gimnasia y Esgrima/LP vs Defensa y Justicia
14/02, 20h15, Malvinas Argentinas - Godoy Cruz vs San Martín/SJ
14/02, 21h, Marcelo Bielsa (Coloso del Parque) - Newell's Old Boys vs Independiente
14/02, 21h30, Florencio Sola - Banfield vs Temperley
14/02, 22h30, Comandante Andrés Guacuarí - Crucero del Norte vs Tigre
15/02, 18h, 15 de Abril - Unión/SF vs Huracán
15/02, 18h, Centenario de Quilmes - Quilmes vs Lanús
15/02, 19h15, La Bombonera - Boca Juniors vs Olimpo
15/02, 20h10, La Paternal - Argentinos Juniors vs Atlético de Rafaela
15/02, 22h30, Eva Perón - Sarmiento vs River Plate
16/02, 19h, El Viaducto - Arsenal vs Estudiantes/LP
16/02, 22h10, Mario Alberto Kempes - Belgrano vs Nueva Chicago