quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Pelo bem do "espírito Libertadores", ficamos com Escobar

Pablo Escobar (ao centro), o herói da classificação do Strongest a fase de grupos da Libertadores (Foto: EFE)

Por: Felipe Ferreira (@felipepf)

A presença de clubes mexicanos na Libertadores levanta inúmeras discussões. Há quem defenda, há quem seja contra e o intuito deste post não é tratar desse tema, até porque o intuito não é comentar qualquer questão técnica, é falar da aura do futebol sul-americana e a paixão sobre o qual ele se apoia, algo que é difícil descrever, afinal, trata-se de um sentimento demonstrado pela adoração a estádios os quais nada lembram as modernas arenas da última Copa do Mundo e estilo de jogo nada parecido como o Bayern do Guardiola ou o Barcelona de Messi e Neymar.

Sob tal contexto, a tão amada Copa Libertadores da América destaca-se como o simbolismo máximo desse sentimento. Nas canchas libertadoras, não se discute técnica (bom ressaltar: não sou adepto de que é preciso jogar feio e encher o time de uruguaios para conquistar a competição), o que se vê é um louvor a essência do esporte, ao lado alternativo da modalidade que todos deveriam amar e idolatrar, do jogo como jogo, com, mesmo diante do lado empreendedor da modalidade, ainda resta coração e, claro, provas de amor.

É claro que, no papel, os times mexicanos são melhores do que tantos equatorianos, bolivianos e venezuelanos, como também é claro que seria ótimo uma união da Concacaf a Conmebol e, enfim, vermos um verdadeiro torneio das Américas, contudo, guardemos essas discussões para depois, o importante é a deixa do embate entre técnica e amor, algo fundamental para tecermos qualquer comentário a respeito de The Strongest 2 x 0 Monarcas Morelia, realizado na noite de ontem.

O futebol na Bolívia desenvolveu-se bem nos últimos tempos. É claro que a altitude ainda é o principal jogador dos clubes do país, mas, campanhas como a do Bolívar na última edição da Copa Libertadores, estão para mostrar o sentido de um dos mais bobos clichês futebolísticos: não há mais bobo em lugar algum (nem na Bolívia). 

Analisando as prévias, o retrospecto de ambos e os plantéis, o confronto entre Strongest e Monarcas guardava um relativo favoritismo ao segundo, afinal, trata-se de um time que disputa uma liga mais competitiva e, até mesmo, conta com um orçamento. É claro que com tal panorama, pipocam comentários tendenciosos pregando o ideal: "Os mexicanos precisam vencer, porque todo time do México é perigoso e agrega nível técnico muito maior a Libertadores. Os bolivianos são fracos, têm só a altitude a seu favor e, dá uma olhada, o craque deles é o Pablo Escobar, aquele ex-Santo André, Mirassol, que não jogou em time grande nem no Brasil".

Sim, amigos, o Monarcas Morelia agregaria muito mais em nível técnico a Libertadores. Entretanto, o questionamento é o seguinte: quem liga apenas para o lado técnico na Copa?

Nas partidas de ida e volta do confronto entre mexicanos e bolivianos na briga por uma vaga na fase de grupos no principal torneio da América do Sul, ficou notório tantas e tantas limitações no Strongest, como ficou nítida um relativo desinteresse com o jogo por parte dos mexicanos, e, acima de tudo, ficou evidente a paixão e a determinação. Paixão e determinação do Pablo Escobar, o mesmo que não jogou em time grande algum em terras tupiniquins e rodou o humilde interior paulista.

Chamado de mágico pela imprensa boliviana, Escobar não faz mágica e não é um primor, porém apenas de notar o carinho dispensado tanto por jornalistas de seu país como por torcedores mostra uma faceta diferenciada do atacante ídolo do Santo André. É um lado cujo o alicerce é a compensação da falta de habilidade, com determinação, carinho e competência ao se honrar a camisa que veste, honrar a função de ídolo e capitão, chamar um carisma diferenciado e trazer o espírito passional para dentro das quatro linhas.

Na partida de ida, o paraguaio naturalizado boliviano já havia marcado o gol do Tigre no empate de 1 a 1 em solo mexicano. Na volta, em um jogo duro com um gramado pesado devido as fortes chuvas, Escobar chamou a responsabilidade para si, chamou o técnico Oscar Craviotto para uma conversa na beira do campo e, do alto de seus 36 anos, ele não foi só jogador, foi treinador, comandante e, acima de tudo, herói.

Herói porque, em meio a um jogo disputado e com a vaga para a próxima fase em aberto, chamou a responsabilidade para si, marcou 2 gols nos últimos cincos minutos e fez algo, como ele mesmo definiu em entrevista pós-jogo, histórico. Pesando muito mais a determinação, a longa história junto ao Strongest, já trazendo o primeiro grande momento dessa Libertadores e a sua emoção ao fim do jogo, entra para a galeria de imagens históricas do torneio. 

O Monarcas Morelia e o futebol mexicano até podem trazer uma melhoria ao nível técnico da competição, contudo, o "espírito Libertadores" vai muito além disso, supera os limites de paixão e determinação, se exaltando com este humilde despontar de heróis improváveis e contestados.

Pelo bem desse espírito, ficamos com Escobar para a fase de grupos.

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