Centurión, da idolatria e protagonismo à incerteza da coadjuvância

Centurión conseguirá repetir no São Paulo o sucesso obtido no Racing? | Foto: Todo Noticias

Por: Jhon Tedeschi (@jhontedeschi)

Poderia intitular este texto como “qual o valor do dinheiro?”, que não seria nenhum absurdo. Aparentemente o futebol estava superando aquela fase puramente mercantil, onde o que importava era a formação de atletas para o acúmulo de dólares e euros, mas foi apenas uma impressão.

Mais do que para os clubes, para os próprios jogadores a independência financeira parece muito mais importante que a realização profissional, ou a manutenção de um status dentro de um clube.

Autor do gol do título do Racing no último Torneo de Transición, o jovem Ricardo Centurión, 22 anos recém completos, tinha tudo para se manter como um referencial técnico e de idolatria em La Academia. Tinha, pois na última semana o presidente do clube de Avellaneda não conseguiu conter o assédio do São Paulo e aceitou proposta de 4,2 milhões de euros por 70% do passe do meia, que pouco (na verdade, nada) fez para tentar impedir sua saída do futebol argentino, alegando que seria “um passo enorme na carreira”.

O São Paulo anunciou assim a chegada de Centurión ao clube | Foto: São Paulo FC

O interessante nessa história é que esta foi a terceira saída de Centu do albiceleste de Avellaneda. O meia estreou com a camisa do Racing em maio de 2012, e, ao final daquele ano, houve uma tentativa de transferência para o Anzhi, da Rússia. Ela não se concretizou, pois Centurión não passou nos exames médicos, onde foi detectada uma lesão no tornozelo que o deixou fora de combate até maio de 2013.

O “retorno”, no entanto, não durou muito, e em outubro ele foi negociado com o Genoa, da Itália, onde não se adaptou e disputou pouco mais de 10 partidas. A volta para o Racing foi confirmada em julho do ano passado, para a disputa do Torneo de Transición, que o consagraria como um dos grandes nomes da história do clube – muito mais pelo gol no derradeiro cotejo contra o Godoy Cruz, do que pelo conjunto da obra.

No Racing, Centurión jogava como um meia aberto pela esquerda, caracterizado pela sua velocidade e facilidade para driblar. Devido a estas qualidades, o novo reforço são-paulino era um dos jogadores mais caçados do futebol argentino, mesmo que suas características por vezes fossem inócuas para o rendimento da equipe. Em 52 jogos com a camisa do Racing, foram apenas 7 gols marcados, deixando claras suas dificuldades para finalizar, além de reiteradas amostras de individualismo exagerado.

Sua chegada no São Paulo é para atender a um desejo do técnico Muricy Ramalho, que queria um atacante de velocidade, após a saída do contestado Osvaldo. O noticiário no Brasil trata Centurión como um atacante, o que ele nunca foi na carreira. Considerando que o São Paulo tem jogado no 4-2-3-1, com variações para o 4-3-3, o argentino irá disputar vaga no time titular com Michel Bastos, que joga praticamente como um ponta-esquerda. É um jogador promissor, com um potencial muito interessante, mas seu sucesso por aqui é uma incógnita.

A questão principal é: Centurión conseguirá se adaptar ao futebol brasileiro? Seu estilo firulento e abusado certamente não irá ter boa receptividade da opinião pública, sobretudo de seus adversários. Mesmo se ficar à vontade com a camisa do São Paulo, não acredito em um protagonismo do ex-jogador do Racing no futebol brasileiro.

É muito mais uma perda quase que irreparável para o time de Avellaneda do que um grande reforço para o Tricolor Paulista. Vamos ver até que ponto vai compensar para a carreira de Centurión a questão da independência financeira.

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